6-9/Dez/2009 - Mineralisation of western Tasmania fieldtrip...

6/Dez/2009...
Este foi o primeiro dia de uma "fieldtrip" espectacular..!!! Um dia verdadeiramente excepcional! Ora vejam...
Levantei-me às 5h45... O sol já estava bem acima da linha do horizonte... Fui preparar-me para sair e às 7h já estava fora de casa a caminho do CODES... O ponto de encontro era às 7h30 em frente ao edifício de Geologia, mas eu cheguei às 7h15... O Andrew estava a meter caixotes com comida e bebidas na carrinha e eu fui dar-lhe uma ajuda... Antes de partirmos, o Andrew fez uma pequena introdução sobre a geologia geral da Tasmânia (que eu já sabia praticamente toda...) e o Bruce Gemmell fez os acrescentos... Depois de agarrarmos nos nossos almoços (para não fugirem...) e dos últimos preparativos partimos finalmente às 7h45! Eram 4 carrinhas em caravana... Eu fui com o Andrew, o Alexei e um senhor coreano (que deve ser importante, mas que não sei o nome... Ele bem me disse, mas além de ser difícil perceber, seria ainda mais difícil escrever para ficarem a saber...). Enfim... O Andrew foi ao volante e, durante a primeira parte da viagem, vi pela primeira vez a beleza natural da Tasmânia... Simplesmente espectacular! Durante a viagem, eu, o Alexei e o Andrew falámos imenso, de tudo e mais alguma coisa... E aprendi muitas curiosidades fantásticas... Por exemplo, sabiam que a Tasmânia é o maior produtor legal de ópio do mundo...? É verdade! Quem diria hein...? Falámos da Tasmânia, de Portugal, das semelhanças e diferenças, do percurso, da fauna e flora, dos diabos da Tasmânia e, claro, da Geologia e Geomorfologia que íamos vendo para lá da janela... Foi fantástico!
A primeira paragem foi em Campbell Town para o “morning tea”... (os australianos levam isto mesmo a peito; o morning tea é essencial!), por volta das 9h20. Toda a gente comeu e bebeu qualquer coisa (excepto eu...) e depois saimos por volta das 9h45... Continuámos para norte, durante cerca de 1h30, e depois viramos para oeste até chegarmos a Sheffield, por volta das 11h30. Aqui fizemos outra paragem para reabastecer as carrinhas e para esticar um pouco as pernas... É uma pequena cidade bastante engraçada... Aquilo que mais a caracteriza é o facto de haverem pinturas nas paredes de muitas casas que se parecem com verdadeiros quadros artísticos... Incrível! Mais, durante esta breve paragem vi uma lama castanha a passar no passeio da rua principal... Não acreditava no que os meus olhos viam... Foi fantástico! Queria deixar-vos aqui uma mensagem importante... Aconteça o que acontecer, sigam o conselho da foto “Um sentido para a vida...”.
Saimos de Sheffield por volta das 12h em direcção à mina de Hellyer... Durante o percurso, o cenário de fundo estava pintado pelo Mount Roland, onde se conseguia ver o Owen Conglomerate, a sequência sedimentar que cobre imediatamente o MRV (mas que já não faz parte deste...). A sensação foi fantástica!!! Depois foram mais 30 minutos de percurso, por entre curvas e contra-curvas do Mount Roland, onde vi pela primeira vez afloramentos do MRV e onde, após atingirmos altitudes mais elevadas, apanhamos os primeiros aguaceiros... Até à altura, o tempo estava simplesmente excelente! Um pouco nebulado, mas com temperaturas amenas e sem vento... Seguimos por mais algum tempo e, por volta das 13h parámos para almoçar, cerca de 10 km antes de chegarmos à mina de Hellyer... As carrinhas ficaram em fila e o grupo subiu até ao cimo de um monte (com uma vista fantástica...) para abastecer o estômago... Com o estômago cheio, foi altura de o Andrew e o Bruce tomarem, de novo, comando da situação e fazerem uma pequena introdução e um enquadramento geológico da região e da mina de Hellyer.
Cerca de 15 minutos depois chegámos ao nosso destino, a mina de Hellyer! Fomos recebidos pelo Kim Denwer, o responsável, que nos deu uma pequena apresentação sobre a mina de Hellyer e a recente exploração de Fossey...
O depósito de Hellyer é caracterizado pela presença de sulfuretos maciços polimetálicos de alto teor. Os recursos na fase de pré-mineração foram estimados de cerca de 16,9Mt, com 0,4% Cu, 7,2% Pb, 13,8% Zn, 167ppm Ag e 2,5ppm Au. O depósito foi descoberto em 1982 através de um conjunto de técnicas de exploração geológica, geofísica e geoquímica. A produção começou em 1989 e a extracção de minério terminou em 2000. O depósito de Fossey está localizado imediatamente a sul de Hellyer e tem um recurso de 0,83Mt, com 0,3% Cu, 4,6% Pb, 9,1% Zn, 120ppm Ag e 2,5ppm Au...
Depois desta pequena apresentação voltámos a sair, vestimos coletes, óculos de protecção e capacetes e seguimos para a próxima paragem, onde iríamos ver e analisar carotes de sondagens... Chegámos e foi mãos à obra..! Analisei muitas carotes com sulfuretos maciços e rochas encaixantes, mas também muitas outras com texturas vulcânicas típicas (muitas delas já tinha visto no livro da Joce...). Foi espectacular!!! O Bruce Gemmell ajudava com a interpretação dos sulfuretos maciços e o Andrew com as texturas vulcânicas... E ao mesmo tempo, tentávamos enquadrar na história geológica e estrutural da mina de Hellyer tudo aquilo que viamos... Muitas carotes apresentavam texturas que não tinham uma interpretação linear, mas muitas outras mostravam relações entre minérios e padrões de fracturação simplesmente maravilhosas! Passei muito tempo a discutir e a analisar fracturas com preenchimentos siliciosos em argilitos negros e em peperitos com o Steve, um investigador do CODES (especialista em geologia estrutural aplicada ao estudo de recursos minerais...). Foi fantástico!!! No final, o Kim deixou-nos levar algumas amostras de sulfuretos maciços como recordação (foi pegar no saco e encher até rebentar!!!).Depois desta sessão fenomenal, voltámos até ao centro de controlo da mina para mais uma pequena apresentação do Kim.
Terminado o dia na mina, voltámos para sul no sentido de Tullah, o local onde iríamos ficar nos próximos dias... Pelo caminho, ocorreu um episódio excitante, mas ao mesmo tempo muito perigoso... Enquanto o Andrew guiava, avistou na berma direita da estrada um Equidna, um clássico da Tasmânia e Austrália, muito parecido com um ouriço cacheiro, mas com uma proeminência facial típica... Assim que foi avistado, o Andrew parou rapidamente a carrinha para que pudéssemos tirar fotos... Corremos para o outro lado da estrada e ainda o apanhámos a meter a cabeça no solo, deixando os espinhos à vista; um mecanismo de defesa bastante eficiente. Contudo, não reparei que, enquanto tirava a foto, tinha colocado os pés em cima de um ninho de formigas!!! Pois, mas não são umas formigas normais... Para quem se lembra das formigas do Guincho, bem digamos que estas têm à vontade (e agora não estou a exagerar...) o dobro do tamanho!!! E não é preciso muito esforço para ver que têm umas pinças gigantes! Quando dei conta, já umas boas dezenas estavam a subir pelas minhas calças acima (muitas tinham ficado nas botas a tentar perfurar, mas sem sucesso...). E o que vale é que trazia calças de ganga... O Andrew e o Alexei, que estavam comigo, correram imediatamente para mim e ajudaram-me a sacudi-las (um processo bastante perigoso, dadas as dimensões das atacantes...), e a sensação de ter formigas gigantes à perna não é lá muito boa... Com algum esforço e perícia lá conseguimos tirar todas as formigas... Mais tarde, quando regressámos ao carro, perguntei ao Andrew se eram perigosas.. Bem, ele disse-me que sim, que a mordedura era bastante dolorosa (por experiência própria...) e que podiam criar alergias graves que podiam fazer com que uma pessoa..enfim..não queiram saber... Podem querer que agora vejo sempre onde ponho os pés...
Por volta das 17h30h chegámos finalmente ao hotel de Tullah... Um sítio absolutamente lindo e maravilhoso, com paisagens especialmente desenhadas para vos criar inveja..hehehe (ao menos estou a tentar arduamente que venham até cá...). Depois de fazermos o check-in, levei as mochilas para o quarto (que partilhei com o Alexei) e tomei um banho. Às 18h30 combinámos todos beber qualquer coisa e às 19h jantámos! E que jantar fantástico... Depois de jantar, ainda tivémos uma pequena apresentação, dada pelo Andrew, sobre a história geológica da Tasmânia (650 Ma. em 20 minutos, o que dá uma média de 32,5 Ma. por minuto...), seguida de discussão... Foi mais uma oportunidade para me integrar na história geológica desta ilha maravilhosa... Depois desta última sessão voltei para o quarto (número 24), onde acabei o dia a escrever e a pensar de como o dia seguinte iria ser certamente tão ou mais fantástico e emocionante...

7/Dez/2009...
O segundo dia superou as expectativas... Foi excelente! Espectacular!!! Seguem os detalhes...
Acordei às 6h30... O pequeno-almoço estava marcado para as 7h, e a partida para as 8h... O pequeno-almoço foi bastante bom! Cereais, sumo de laranja natural e sandes frescas com manteiga... O tempo é que não estava tão bom... Tinha começado a chover na noite anterior a assim continuou até hoje... Mas também não estava assim tão mau... Apenas um pouco de nevoeiro e humidade, chuva muito miudinha e algum frio, mas nada que um bom equipamento não aguentasse. O pessoal estava pronto para partir e às 8h05 deixámos Tullah em direcção à mina de Mt Bischoff... Chegámos por volta das 8h30 (foi uma viagem bastante rápida), altura em que o Andrew e o Bruce fizeram a introdução e o enquadramento geológico da mina...
O Mount Bischoff é uma mina para exploração de estanho (Sn) e foi o primeiro recurso mineral desenvolvido na zona oeste da Tasmânia. A produção começou em 1872 e rapidamente atingiu a velocidade de “a todo o vapor”... Nos primeiros 20 anos o teor de Sn era cerca de 3%. A mineralização ocorre numa sucessão de quartzitos, argilitos e dolomite do final do Precâmbrico, rochas estas que foram intruídas por numerosos filões quartzo-feldspáticos de textura porfírica de idade Devónica, possivelmente correspondentes ao Granito de Meredith... A mineralização ocorre por substituição da dolomite e consequente greisenização dos filões...
Após esta breve introdução, fomos até ao local de informação turísitica, que fica mesmo em frente à mina, onde tive a primeira visão fantástica do dia! Era a primeira mina a céu aberto que visitei e foi espectacular! Até consegui uma foto rara..hehehe... Depois disso, ainda tivémos algum tempo à espera da hora certa para partir, por isso voltámos para o local onde deixáramos as carrinhas que, por acaso, era também um local com muitos “restos” deixados pela actividade mineira... E claro, não consegui resistir... Foi saltar e mergulhar de cabeça para a “xixa grossa”. Enchi um saco com muita pirite e calcopirite, pirrotite e siderite! Foi fantástico!!! Vi também turmalina negra..! Excelente! Após a recolha de amostras, viajámos cerca de 200 metros até à mina propriamente dita, onde fomos recebidos pelo Chris Spiller, o responsável. É uma figura bastante peculiar... Eu diria que o Chris pertence mais a um grupo de motares (ou a um clube de tiro...) do que propriamente a um gerente de uma mina, mas enfim... Fica ao vosso critério... Depois de uma leitura rápida pelos procedimentos de segurança, o Chris mostrou-nos o sítio e deixou-nos bastante à vontade... A maquinaria usada na mina é simplesmente impressionante... É tudo gigante!!! As rodas de todos os camiões têm um diâmetro muito maior do que a minha altura!!! Outro aspecto a reter é a espessa camada de lama que cobria o chão... Mas estava preparado... As botas de biqueira de aço revelaram-se perfeitamente adaptadas para o efeito... Sentia-me bem... E até soube bem chafurdar com os pés na lama... Vi o corte da mina ao longe... Fenomenal... Subimos todos até ao ponto mais alto possível para fazermos boas observações e para tirarmos notas... Lá, falei bastante com o Steve (não o geólogo estrutural aplicado aos minérios, mas outro...), que me explicou tudo sobre o processo de exploração... Particularmente, e porque no momento estavam a colocar cargas explosivas, falou-me sobre a colocação de explosivos, o porquê, o como e as causas e consequências... Foi excelente! Depois disso, conversei com muitos outros participantes sobre a geologia da mina, particularmente do corte que tinha à minha frente e descobri diferentes modos de dizer a mesma coisa (o que foi extraordinário...). Confirmei tudo com o Andrew e tirei montes de fotos e fiz muitos vídeos... Depois desta análise geológica, descemos o monte e analisámos mais dois locais com resíduos da actividade mineira... Escusado será dizer que voltei bastante mais pesado (ou seja, com mais dois sacos cheios de amostras lindas...), nomeadamente com o minério que é explorado nesta mina – cassiterite. Foram uns bons 50 minutos de apanha e análise de amostras... Estava no paraíso! Depois viemos embora, mas não sem agradecer ao Chris e ao pessoal da Metals X Ltd. com um grande aplauso... Foi fixe!
Saimos da mina de Bischoff com as botas bastante enlameadas (e as calças também...), por isso, no caminho para a mina de Savage River (o programa da tarde...), fizémos uma pequena paragem em Waratah, uma pequena cidade bastante calma para limparmos as botas e descontrairmos um pouco... De seguida, fizémos mais alguns quilómetros até a um miradouro, o local perfeito para almoçar... O dia tinha começado a ficar mais soalheiro, e a visão espectacular do miradouro na direcção da mina de Savage River começava a ficar mais clara.. Isto, juntamente com umas sandes maravilhosas, com umas batatas fritas e sumos, fez o conjunto perfeito para o almoço... E assim foi... Almoçámos com um cenário fantástico como pano de fundo e, depois de satisfazermos o estômago, ainda tivémos tempo para jogar “frizbee”. O disco voava entre mim, o Steve (geólogo estrutural e de recursos minerais), o Alexei (o russo) o Dave Selley e o Chang... Foi espectacular!!! Depois disto ainda visitámos outro miradouro e seguimos para SW, em direcção à mina de Savage River... Outra mina espectacular!!! Após a chegada, fizémos a inscrição, entrámos para um autocarro especial e seguimos até às instalações da mina, bastantes metros abaixo do local de chegada... Fomos recebidos muito bem por pessoal da mina (Grange Resources Ltd.), nomeadamente o David Gibbons, que nos deu apresentações em Power Point sobre muitas características da mina... No final das apresentações, e antes de seguirmos para o exterior, análisámos algumas amostras típicas... Foi mesmo fantástico... Uma das singularidades da mina é a ocorrência de boudinagem simultaneamente com os processos de mineralização... Fiquei completamente com os olhos a brilhar... Os boudins ocorrem por toda a mina, mas são particularmente gigantes (alguns metros...!) em dobras por cima da zona onde o minério ocorre em maiores concentrações... Ver boudins à escala do afloramento (nos Power Points) e, depois, em amostra de mão foi algo absolutamente incrível (expectável, mas fantástico!). Contudo, a maior parte deles ocorre com estruturas pinch and swell... Deste modo, fiquei a saber muitas particularidades da mina e, claro, a geometria, localização e composição do minério principal – magnetite. Depois da parte teórica, foi tempo de passar à prática... Mais uma vez, apanhei o autocarro da mina e fui transportado até às profundezas do “open pit”... Nunca tinha estado numa mina tão grande... A sensação de escala foi absolutamente magnífica... Frequentemente sentia o chão a tremer devido à passagem de camiões gigantes (cujo diâmetro das rodas tinham o dobro da minha altura!!!) que transportavam o minério... Para terem uma ideia, são explorados mais de 1 milhão de toneladas de rocha por semana em Savage River... Hehehe... O que parece muito é muitas vezes relativo e, de facto, esta quantidade não é nada comparada com minas que exploram mais de 1 milhão de toneladas de rocha por dia!!! E essas minas existem mesmo... É incrível se pensarmos nestes números, mas percebemos a grandiosidade do processo quando nos encontramos em locais como Savage River... Enfim... Foi MEGA espectacular... E claro, mais uma vez, não saí de Savage River sem mais uma amostras (mas nem foram muitas...)... Depois desta sensação fantástica, voltámos para cima para analisarmos carotes de perfuração... E o final do dia terminou assim, na companhia de blocos de rocha cilíndricos bem fresquinhos (acabádos de furar...).
Depois de nos despedirmos do pessoal da mina (com mais um forte aplauso...) voltámos para Tullah... No caminho fomos constantemente a falar com o Andrew, que parecia bastante contente e descontraido (a ouvir música country, a cantar e a beber uma Coke...). Chegado a Tullah, e bastante cansado da viagem, o banho soube mesmo bem... Antes de jantar, por volta das 19h, dei um pequeno passeio pela parte de trás do hotel, onde a paisagem maravilhosa domina... O jantar, mais uma vez, foi maravilhoso! Muita comida boa que caiu no estômago tal como eu cai na almofada no final do dia... Mas, antes disso, e logo a seguir ao jantar, ainda descontraímos bastante com um excelente jogo de cartas, com muitas gargalhadas de chorar a rir... Foi um dia excelente... Mal posso esperar por amanhã...

8/Dez/2009...
O dia hoje começou ainda mais cedo... Combinámos no dia anterior a partida para as 7h45 e assim foi...
Foi o início de um terceiro dia espectacular!!! O dia estava bastante nublado de manhã e um pouco frio (mas perfeitamente suportável...). Estava óptimo! Depois de tudo pronto, lá partimos em direcção à mina de Avebury. Fizémos uma paragem nas instalações da mina de Rosebery para nos inscrevermos para podermos visitar a mina de Avebury (mas nem foi preciso fazer quaisquer inscrições, nem sem bem porquê...). Por esta altura, enquanto esperávamos para assinármos, o Andrew fez uma introdução à mina de Rosebery (onde trabalhou durante o PhD) e parece que resultou como uma espécie de feitiço, porque começou a chuver poucos minutos depois... Ninguém descolou os pés do chão... Foi ouvir até ao fim, porque era super interessante... Contudo, a certa altura, tivémos de correr mesmo para dentro das carrinhas porque a chuva não perdoava (parecia que cada gota era um balde de água...). Saímos da mina de Rosebery e fizémos uma pequena paragem na cidade com o mesmo nome (um pouco mais abaixo) para o segundo pequeno-almoço e café (estes australianos têm de se manter acordados senão não trabalham...).
Voltámos a partir, mas antes de chegármos à mina de Avebury, ainda fizémos duas paragens pelo caminho...
A primeira foi num local chamado Serpentine Hill (imaginem lá porquê...). Assim que vi a colina, os olhos começaram a brilhar... A colina era verde, mas não devido a vegetação... Estava completamente coberta de serpentinitos verdes (gostaria de dizer que nem uma alface, mas na realidade são mais escuros do que isso...). Foi espectacular!!! Toda e qualquer rocha que apanhássemos do chão tinha uma cor verde escura viva, com cristais bastante bem formados de serpentina. Aprendi também a distinguir bem as duas variedades de serpentina do local (antigorite e crisótilo). O crisótilo ocorre em veios e é bastante parecido com asbestos, enquanto a antigorite é bastante mais maciça e com cristais relativamente bem formados... Antes de mergulhármos nas amostras, o Andrew fez uma introdução geológica do local, com a ajuda do Bruce Gemmell (para segurar no mapa...). O local era também muito interessante (não só por causa dos serpentinitos) porque continha um afloramento com complexos máficos e ultramáficos (um dos afloramentos críticos que serve de base para explicar o aparecimento de complexos máficos e ultramáficos na parte oeste da Tasmânia por processos de obducção...). Este afloramento contém basicamente piroxenitos e dunitos, em que os primeiros ocorrem como rochas mais salientes, por isso é fácil identificarem-se mesmo a alguma distância... E claro... Para quem sabe que um dunito é uma rocha ultramáfica com mais de 90% de olivina, escuso de dizer que os dunitos transpiravam um brilho bem verde característico... Foi fantástico!!! Depois de ver os complexos máficos e ultramáficos, voltei para a encosta da colina com os serpentinitos e, claro, não deixei o local sem trazer um bom saco de amostras fresquinhas... Este é também um local muito especial (como se já não chegasse...) porque podem encontrar-se pequenos cristais de um mineral muito típico da Tasmânia, a Stitchtite, um carbonato de magnésio e crómio hidratado com uma cor púrpura característica... Como nota, os dois minerais típicos da Tasmânia (e pelo que a Tasmânia é mais conhecida...) são a Stitchtite e a Crocoíte. Ainda consegui trazer uma pequena amostra com Stitchtite (o que foi absolutamente espectacular...!!!).
Depois do pouco tempo passado na Serpentine Hill (soube mesmo a pouco...), ainda fizémos uma paragem rápida em Zeehan, e depois uma outra paragem num afloramento com gabros muito bonitos... Mais uma vez, o Andrew fez a introdução geológica (com o Bruce a segurar no mapa...) e analisámos muitas rochas do local...
Depois seguimos finalmente para a mina de Avebury, onde analisámos muitas carotes de sondagens feitas na mina, e onde descobri mais um mineral novo muito bonito, a Axinite, um silicato de boro e manganésio... As carotes mais típicas eram basicamente constituídas por serpentinitos bastante maciços com cor verde muito escura ou com aspecto fibroso em veios (antigorite e crisótilo), juntamente com magnetite maciça e com pequenas áreas arredondadas irregulares com pirrotite a englobar pequenos núcleos com pentlandite... Amostras verdadeiramente fenomenais... Com tanta coisa espectacular para ver, estivémos mais de duas horas a analisar carotes e a discutir a geologia da mina... Foi excelente! Antes de partirmos, agradecemos aos responsáveis, o Larry Stewart e o Todd McGilvray, por nos terem recebido e pelo tempo dispendido para nos mostrarem todas as maravilhas que vimos...
Voltámos para Zeehan para almoçar (mais uma vez um almoço excelente...) e onde aproveitámos para visitar um pequeno (mas grande...) museu geológico... Tinhamos apenas 40 minutos, mas valeu mesmo a pena... Tem amostras absolutamente espectaculares!!! E claro, não podia deixar de ver a Stitchtite e a Crocoíte, típicas da Tasmânia...
Depois desta pequena (mas intensa...) excursão geológica, viajámos até à mina de ouro de Henty... À entrada da mina, a segurança é bastante apertada (é uma mina de ouro, o que é que esperavam..?) e é feita uma selecção aleatória para análises de urina, para ver se existem evidências de drogas ou não... Felizmente não fui seleccionado... Ufff... Depois de entrarmos, tivémos uma pequena palestra sobre a geologia da mina, com uma pequena discussão no final, e depois voámos, corremos e atropelámo-nos todos para ver o ouro nas carotes de sondagens... A primeira coisa a fazer foi olhar para as descrições das carotes (com as profundidades e os teores de minério) e identificar as profundidades em que os teores de ouro eram mais elevados... Assim que isto foi descoberto, todas as mesas com os teores de minério mais elevado estavam rodeadas por pessoal que não descolava os olhos das amostras (parecia que tinham os olhos colados com super cola 3...). Incrível!!! Foi uma autêntica corrida ao ouro do início do século XXI (mais precisamente no dia 8 de Dezembro de 2009...). O Bruce Gemmell (o homem tem olho para a coisa...) encontrou uma amostra com uns bons 10 mm de ouro na superfície, amostra esta que foi intensamente fotografada... Também aprendi com o Bruce Gemmell que o ouro e a pirite podem distinguir-se bastante bem quando ocorrem simultaneamente, mas que já não é tão fácil quando aparecem separadamente... A maneira de fazer a distinção (uma vez que o ouro ocorre em tão baixas quantidades...) baseia-se em colocar a amostra para a luz e verificar que o ouro não apresenta variação de brilho quando movimentamos a amostra... Tal não acontece com a pirite... Além disso, a cor do ouro é bastante mais “dourada” do que a pirite... Ver aquela quantidade de ouro numa amostra maciça foi uma sensação espectacular... Mais uma vez agradecemos aos nossos anfitriões, o Steve Farmer e o pessoal da Bendigo Mining Ltd., por nos mostrarem as carotes e fizémo-nos à estrada...
O programa do dia tinha terminado, mas ainda estávamos a meio da tarde, com muita luz do dia pela frente... Por isso, aproveitámos ao máximo e ainda fizémos mais duas paragens para vermos afloramentos...
Na primeira vimos os chamados granitos de Murchinson (que, na verdade, são granodioritos...) perto de uma queda de água, num dos melhores afloramentos que existem para vermos o tal granito... Antes de sairmos do carro, tivémos que esperar pelo sol, porque a chuva parecia que não queria ir-se embora... Mas enfim..o objectivo foi cumprido...
A segunda paragem foi especialmente destinada para ver a transição (o contacto geológico) entre o Tyndall Group (a última sequência geológica do MRV) e o Owen Conglomerate, a sequência geológica que ocorre acima do MRV... Para isso tivémos de subir a uma encosta (bastante íngreme...) onde, além de vermos o que era suposto (que foi espectacular!!!) deparei-me também com uma paisagem excelente daquela parte da Tasmânia... Montanhas, florestas e lagos faziam parte do cenário de fundo... Que sensação..!!! Brutal! Além do contacto geológico, vi também muitas outras estruturas, nomeadamente lineações, veios e relações entre ambos que permitiam identificar várias fases de deformação... Foi excelente!
A última paragem, antes de voltarmos para o hotel, foi mesmo numa barragem perto do local, onde apreciámos a paisagem e descontraímos durante alguns minutos... Chegados ao hotel, nada melhor que um banho quente para relaxar, seguido de um maravilhoso jantar, onde não faltou comida... Depois do jantar fui pagar a minha conta dos últimos 3 dias (paguei 52 AUD por 3 jantares maravilhosos...), e ainda tivémos uma grande palestra dada pelo Kim Denwer, o anfitreão da visita à mina de Hellyer no primeiro dia, àcerca da mina de Mount Lyell, a mina a céu aberto que iríamos visitar no dia seguinte... Depois da palestra continuei um jogo de xadrez com o Steve (que tinha começado antes do jantar...) e, mais ao anoitecer, outra partida de cartas, mais uma vez com muitas gargalhadas e conspiração saudável... Foi um dia em cheio, muito bem aproveitado e simplesmente maravilhoso...

9/Dez/2009...
O último dia da “fieldtrip” chegára...
O dia começou cedo, tal como no dia anterior e, às 7h45, depois de um pequeno-almoço excelente, já estávamos prontos para partir (mas ainda tivémos de esperar pelo pessoal que não tinha pago a conta no dia anterior...). Ainda estive a jogar "frizbee" com o Steve, o Peter e o Andrew... Saímos de Tullah às 8h (a dizer adeus ao hotel...) em direcção à mina de Mount Lyell, sob um dia cinzento e com muitas nuvens... No caminho, fizémos uma paragem em Queenstown, para o típico café da manhã, onde aproveitei para andar um pouco pela cidade e tirar fotografias...
De seguida, viajámos então até à mina, onde fomos recebidos pelo Noah Muzuva (fez-me lembrar o Kalu, que neste momento deve andar lá por Angola com toneladas de xixa boa nas mãos...). Tivémos uma apresentação em Power Point sobre a geologia do Mount Lyell (e da mineralização claro...) e, em seguida, analisámos algumas amostras com montes de calcopirite (eram amostras quase totalmente de cor amarela latão...). Muito fixe! Vi uma textura que comummente ocorre chamada “leopard skin” (vejam a foto...). Saímos do escritório e fomos para o campo, onde vimos os “restos” deixados pela actividade mineira e onde, ainda assim, conseguimos identificar estruturas importantes como a Great Lyell Fault... Durante o final da manhã, ainda estive em Tharsis Ridge num afloramento excelente, onde vi depósitos vulcânicos completamente substituídos por hematite maciça, no contacto, atráves de uma falha, com o Owen Conglomerate e com vista para um vale glaciar espectacular! Este foi o sítio escolhido pelo Bruce Gemmell para tirar uma foto de grupo... Depois, ainda fomos visitar o Iron Blow, o local da mina a céu aberto, onde o minério foi primeiramente descoberto... Aqui ainda fizémos um pequeno concurso que consistia em mandar rochas, o mais longe possível, para o lago da mina... Bem, com a prática que tenho tido desde pequeno, as rochas que mandei voaram até à outra margem... Hehehe... A chuva era pesada, mas ainda fizémos uma pequena paragem perto para vermos flow bands... Basicamente consistem em estruturas formadas por escorrência lávica que ocorrem como bandados ondulados... A chuva apertou e tivémos de fugir...
O fim da “fieldtrip” estava à porta... Ainda viajámos um pouco para sul, até ao local de almoço onde, sob o abrigo de uma cabana de madeira, enchemos o estômago de sandes requintadamente preenchidas, sob o olhar atento de alguns corvos... A seguir ao almoço, e antes de o pessoal estar todo pronto para partir, ainda fomos jogar com o “frizbee” do Steve... Partimos pouco tempo depois em direcção a Hobart... Mas, ao fim de cerca de 20 minutos, lembrei-me! Aaaahhhhhhhhhhhh!!!!! Tinha-me esquecido da máquina fotográfica no parque onde estivéramos a almoçar..!!! O frizbee tinha-me desconcentrado e fez-me perder completamente a noção de que tinha deixado a máquina fotográfica em cima da mesa... Disse ao Andrew e ele parou, avisou o resto do pessoal, e voltámos para trás para ir buscar a máquina... Fui a causa de uma mobilização inesperada... Quando chegámos, lá estava a câmara... Peguei nela e voltámos... Quando estávamos a sair do parque, o Andrew voltou a ler o que dizia no sinal de informação: Hobart – 236 km. Dejá vu... Apesar deste pequeno senão, a viagem de regresso a Hobart foi excelente...!!! Muita conversa, muita gargalhada e muita mistura de línguas... Enquanto viajávamos pela Tasmânia, demos também um saltinho à Rússia, a Portugal e também à Coreia... Muitas palavras que foram ditas tinham origem nestes locais tão longínquos, e isso foi razão mais que suficiente para uma viagem muito agradável e com muitos risos fortes... Mas vi também muitos wallabis (versão tasmanense do kanguru...) mortos na estrada durante o percurso e quase que o Andrew ia atropelando uma Equidna... Mas foi excelente! Com o pequeno atraso de cerca de 40 minutos (para recuperar a câmara...) chegámos a Hobart por volta das 18h. O fim de 4 dias maravilhosos passados na parte oeste da Tasmânia tinha agora chegado... Foi uma fieldtrip inesquecível..!!!

4 comentários:

  1. Para já, parece-me que o dia 1 foi de facto bestial. A excitação da ante chegada, a viagem exploratória (a primeira) dessas terras fantásticas, beleza biológica e geológica.
    Sinto-me muito feliz por ti babe!!!

    Agora isso das formigas... esqueceste te de dizer que no carro ainda haviam 2 taradas a tentar furar te a pele!

    Eu gostei da descrição do hotel, mas de facto tinha uma grande incompatibilidade comigo... nao tinha rede. Isso só é bom quando eu tou contigo, para ninguém nos chatear :) hehehehe

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  2. sandes com manteiga?????????????? inédito comeres isso! "aiii não se deve comer manteiga!"

    Adoro o Andrew, o tipo de "prof, intructor, companheiro" que é bom ter por perto.

    Parece-me que sim, tiveste uma experiência de luxo. Andar por dentro das minas ( e por cima), ter acesso a segredos de mina, ver as paragéneses e entender os processos por detrás de cada mineralização... e tá claro, o final do dia sabe sempre melhor se trouxermos umas amostras bonitas para casa.

    Go champ!

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  3. é so festa nesta saida!!!!! mas cadé essa amostra de um dos minerais tipicos da Tasmania que nao me mostraste em conversação "live"????

    Corrida ao ouro, adoro!!!!! Mas qual era o problema de fazeres o teste da urina? uff??? até parece que tomas muitas drogas...só umas de vez em quando!

    Estás rodeado de gente espectacular, nao so a nivel intelectual como pessoal:) aproveita bem babe!

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  4. 40 minutos?????????????????? ouch!

    vERsão Tas de Kanguru??? quero fotos, para ver as diferenças. Vá toca a informar-te.
    Adoro... geologia do camano! Só vês coisas giras.

    Ai esse frizbee... muito frizbee e ainda ficavas sem a máquina. Mas parece-me um jogo divertido para depois de almoço. Estes tipos têm gosto.

    Esta já foi, mas ainda vais ter muitas!!!! :)
    Love You

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